Não se pode entoar um “requiem” solene pelo ano de 1913. Quando muito uma simples “prece” pelo seu desaparecimento.
Além de ser um número aziago – 13 – na realidade não deixa saudades.
Portugal sofreu, ao longo do ano, as mais atrozes tropelias daqueles a quem confiou esperançado, a governação. Enganou-se? Mas quem mais seria capaz de ocupar o lugar, se as experiências anteriores também não foram de melhor cariz?!
Os portugueses, e afinal a quase totalidade da humanidade, vivem horas de angústia e sobressalto com o que se vai passando pelo mundo: miséria, fomes, doenças, desemprego. Um cortejo enorme de lágrimas e de incerteza sem que se vislumbre, para breve, o saneamento indispensável e urgente de tamanhas desgraças.
Infelizmente, não se encontra quem seja capaz de enfrentar dolorosas calamidades e de pôr um tampão a essa corrente caudalosa de misérias que a quase todos atinge. É que, como normalmente acontece, quase sempre ficam de fora uns tantos privilegiados que, cautelosa e atempadamente, se afastaram do descalabro económico em que nos lançaram e continuam, à parte, a gozar as benesses de capitais ardilosamente arrecadados e ardilosamente afastados.
Até quando esta nefasta situação, perguntamos nós?
Enquanto a crise durar, ao lado continuam as greves, as manifestações inflamadas de parceria com o descalabro do desemprego, de mistura com a fome, a doença mal cuidada e a miséria devastadora.
É tempo dos serviços públicos tomarem medidas honestas, sérias e profícuas.
Já basta de tanta solidariedade fingida. Já basta de tantas e suspeitosas falências; de diminuir os vencimentos e os salários, e cortar os subsídios e abonos complementares; de desfalcar o património nacional, com a subsequente perda dos respectivos rendimentos.
Desfazer-se dos bens próprios, é profundamente desolador. Perder o património, entregando-o a potentados estranhos, é limitar a própria independência e passar, irremediavelmente, a ser dirigido por potentados estrangeiros.
E, quando nada mais houver para “transferir” para as mãos de empresários estranhos, o ouro que ainda resta e que está a garantir os fundos bancários, também caminhará para outros governos, transformando Portugal numa mera província estrangeira.
Estarei enganado?
Lembro as exigências da antiga Sociedade das Nações a quem impunha poder fiscalizar a actividade do Governo Português para lhe caucionar o empréstimo indispensável ao equilíbrio das finanças nacionais. Lembro o equilíbrio financeiro alcançado e a compra de ouro, trazido às toneladas pelos barcos dos “Carregadores Açorianos” e outros, para os cofres do Estado Português. Recordo o financiamento de Portugal às Nações beligerantes, durante a guerra 1939-1945. Mas tudo passou ao esquecimento.
Estamos a entrar no ano novo. Esperamos que ele traga aos portugueses dias melhores. Que a fome desapareça e deixe de haver necessidade das sopas do fim de semana e das ajudas solidárias, exigidas pelo desemprego e pela fome que essa situação acarreta. Que uma vez por todas a célebre Troika deixe de cruzar a fronteira e de aparecer na capital, a controlar a administração, a impor medidas cautelares, a fixar a meta das despesas normais com a extinção de serviços, o despedimento de funcionários, o limite dos salários e outros proventos legais, a exigir o aumento dos impostos, afinal, a transformação do velho Portugal numa filial da Comunidade Europeia.
Que a situação tenebrosa que vem sendo imposta aos portugueses se afaste para sempre.
Que desapareça de uma vez por todas o espectro do antigo político: “Adeus Portugal, que te vás à vela!”
Que Portugal volte a ser um País livre, e possa vir a dar, como outrora, lições novas ao mundo.
Que acabe, quanto possível, o flagelo da emigração; os portugueses se sintam bem na sua Pátria e não tenham de abandoná-la para encontrar trabalho e salários dignos, em outras nações.
E para todos os que lerem estas linhas, os mais sinceros votos de um ano feliz!
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